quarta-feira, 11 de março de 2009

Melhor Amigo

Parte 1.


"
Um cão é a única coisa na terra que o ama mais do que ama a si mesmo."
Josh Billings



Não sei quanto a vocês, mas eu amo cães. Sou apaixonada por esses serzinhos peludinhos de quatro patas desde que me entendo por gente. Tenho e sempre tive cães, e posso dizer como especialista prática que eles são as criaturas mais incríveis e preciosas com que já convivi. Sabe aqueles dias em que você chega se arrastando do trabalho, cansado até o último fio de cabelo, e acha que nada é capaz de te animar? Ou então quando está tudo dando errado e a única coisa que você quer é descarregar o seu vocabulário de palavrões completo em cima de alguém? Um cão é a melhor companhia para esses momentos. Ele te recebe, no final de um dia estressante de trabalho, como se tivesse ganhado na loteria, com um sorriso canino enorme estampado no focinho, beijos lambidos, muito cafuné e uma energia capaz de re-animar qualquer defunto. Pode também ficar ao seu lado e ouvir as suas lamúrias com uma paciência de fazer inveja a Jó, sem nunca reclamar ou te deixar falando sozinho. Se você está feliz, ele fica ainda mais feliz e inventa todo tipo de brincadeira para vocês fazerem juntos. Se você está triste, ele fica ao seu lado, te faz companhia, e se você chorar, ele seca as suas lágrimas. Se estiver doente não vai encontrar companhia melhor! Cachorros pressentem quando algo não vai bem com quem eles amam e fazem de tudo para deixar a pessoa o mais confortável possível: montam guarda ao lado da cama, fazem carinho e avisam a todo mundo se algo estiver errado. E o mais importante: cães nunca, nunca traem ou abandonam alguém; são seres instintivamente fiéis e leais, a história do amor incondicional é a mais pura verdade. Você pode abandonar o seu cão, mas ele nunca te abandonará, pode ter certeza.
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O primeiro cachorro que eu tive, e do qual me lembro (porque existia uma cadelinha quando eu era beeeem pequena, mas dela eu só lembro o nome), deve ter entrado na minha vida por volta dos meus sete anos. Era um vira-lata chamado Sansão. Quando papai chegou com aquele cisco de vida mirrada no colo em casa, a escolha do nome foi unânime: não tinha ironia melhor. Sansão era pequeno e magrinho, um vira-lata com qualquer coisa de basset no sangue, preto com manchas marrons. O tempo passou e não contávamos que o nome ia deixar de ser uma piada e passar a ser bastante emblemático, porque a medida que crescia Sansão ficava bem forte. Me lembro de passar horas agarrada a ele, na laje da garagem, observando o movimento da rua. Gostava de abraçá-lo e ele deixava, apesar de ser bastante arisco com as outras pessoas. Deixava até eu ficar batucando na cabeça dele, e eu batucava mesmo. Tinha barulho de coisa oca e eu pensava "nossa, Sansão, seu cérebro deve ser bem pequenininho aí dentro, hein?". Uma vez fomos levá-lo para vacinar, papai tinha um Fiorino e eu fui atrás com ele, segurando a corrente. Meu pai mandou tomar cuidado para ele não fugir, eu não sabia bem o que fazer e ele era bem mais forte que eu, então na primeira oportunidade, Sansão fugiu em disparada. Papai ficou bravo e me mandou ir atrás dele. Eu fui, desesperada e em prantos; primeiro porque meu pai havia brigado comigo, o que era muito raro de acontecer, segundo porque eu me sentia culpada pela fuga do Sansão e terceiro porque morria de medo de não encontrá-lo nunca mais. Ia andando pela rua e perguntando se alguém tinha visto meu cachorro; não, ninguém tinha visto. Até que alguém me disse (até hoje não sei se por covardia ou se era verdade): "eu vi seu cachorro indo em direção à linha do trem. Corre, senão o trem vem!" O sangue fugiu todo e eu tive certeza: ele ia ser atropelado. Corri em desepero, chorando, procurando, mas não o encontrava em canto nenhum. Então meu pai veio em meu auxílio (acho que com uma pontada de remorso) e nós o encontramos, são e salvo, e não tão longe que pudesse ser atropelado pelo trem.

Um tempo depois nos mudamos para a Bahia e tivemos que deixar Sansão para trás. Ele ficaria com um tio do meu pai, que acabou dando a outra pessoa, que deu a outra pessoa... Acabamos não acompanhando muito da vida dele e há uns seis anos atrás (talvez mais, não tenho certeza) soubemos que ele havia morrido, cego e meio surdo. Mas nunca vou me esquecer de uma tarde, de certa vez que tinha voltado à Vila de férias, uns dois ou três anos depois de mudar. Eu e minha irmã estávamos andando na rua quando vimos Sansão com um rapaz. Era ele, vimos logo, não tinha como errar. Só não esperávamos que ele também nos visse e tentasse de toda forma chegar até onde estávamos, arrastando o rapaz pela corrente e chorando
aos nossos pés como eu nunca tinha visto ele fazer antes. Havia três anos que não nos víamos, três anos em que nós mudamos bastante, e ainda assim ele nos reconheceu. E demonstração de carinho e fidelidade, como a que recebemos dele nesse dia, eu nunca vi igual. E, com certeza, nunca vou esquecer.
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Vou continuar escrevendo sobre meus cães em outro post. Ia escrever tudo nesse, mas percebi que ia virar um livro e ninguém teria paciência de ler até o final, por isso resolvi dividir a série em três capítulos. Fui inspirada a escrever sobre eles por uma "coincidência" de fatores, que me fez entrar em contato com essas memórias e com meu amor pelos bichinhos, nesses últimos dias. Um dos fatos foi a chegada da mais nova integrante da família Sousa, a Ana Carolina, a nova cachorrinha do Amigão.


Parabéns pela "filhinha", Amigão! =)


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Um Ps final: não respondi quais eram as mentiras do meme do outro dia! Posso dizer que ninguém vai levar o doce virtual, porque ninguém acertou as três. =P
As mentiras eram:


3- Detesto pimenta e comidas apimentadas no geral. Mentira! Eu ADORO! Su, eu posso não ter comido a pimenta do acarajé aquele dia porque, confesso, tenho medo de pimenta de acarajé, costumam ser muito mais fortes do que eu consigo aguentar. Mas eu adoooro.

5- Minha cor favorita é o Turquesa. Mentira! É verde. Todos os tons. =)

7- Nunca pinto minhas unhas de vermelho. Mentira! É a cor que mais pinto minhas unhas. Quando pinto de algo diferente a manicure até se espanta...



9 comentários:

Amigao disse...

Nossa!
A leitura deste post foi como um filme.Fiquei imaginando cada cena.O Sansão correndo.O reencontro.
Sabe eu lembrei de um fato,dois sobrinhos meus, Carina, de 8 anos e Matheus de 7, presenciaram um cachorro ser atropelado e socorreram o bichinho.Invadiram uma clinica veterinária com o cachorrinho no colo. Eles choravam tanto que a doutora pensou que o cachorrinho fosse deles.
Belo texto.
Bom dia pra você!

Anônimo disse...

Ain, eu quero um cachorrinho!! =)

São seres tão lindos, tão fofos e principalmente de uma cumplicidade maravilhosa! Eles nos entendem, sabe quando estamos tristes ou alegres... são sensíveis!], amáveis... são amigos!!!

Lolli, eu amei seu post!
Você e sua sensibilidade incondicional!!!
Beijos, Flor!!
Mó saudade sua!!

Anônimo disse...

Novo filme: Sansão & Me! Poderia terminar com este reencontro! Amei :) Eu confesso que tenho um pouco de medo de cachorro. Não sei o motivo. Mas mesmo assim adoro, acho lindo, principalmente os filhotes. Tenho uma cachorrinha linda, uma poodle preta e toda peludinha, que acha que é gente e é muito carinhosa. Até quem não gosta de cachorro gosta dela! Mesmo sendo alérgica, eu caduco o tempo todo. O nome dela é Phoebe, em homenagem à Phoebe Buffay rsrsrs

Beijos

Dulce Miller disse...

Oi Lore!
Este post me fez lembrar do único cachorro que tive na vida, o Guga. Ele era um vira-lata que eu tirei da rua e levei pra casa, era um filhotinho perdido, tadinho...
Ele cresceu e acabou se tornando meu melhor amigo. Teve um episódio com ele que eu jamais vou esquecer:
Um dia eu havia brigado feio com meu pai e estava sentada na porta de casa, chorando muito. Ele chegou perto e ficou me encarando com olhinhos mais tristes que os meus... então, sem mais nem menos ele deita a cabecinha no meu colo e eu achei aquele gesto a coisa mais linda do mundo!
:´(

Saudades do meu bichinho... ele morreu atropelado na frente de casa e eu nunca mais quis ter outro amiguinho assim...

Anônimo disse...

Ahhh acho lindo, mas os dos outros ;D Prefiro outro bichinho: o gato! Mas, infelizmente, não posso ter um no momento =/

Linda a história de Sansão!

Beijocas!

Anônimo disse...

Mesmo você batucando na cabeça do Sansão e chamando ele de cabeça oca ele te amava rsrsrs Adorei o post,pena que eles partem uma hora. Nunca tive doguinhos (como gosto de falar) mas adoro adotar os alheios, me considero tia deles.
[Vou indo ler o outro rsrsrs]

Éverton Vidal Azevedo disse...

Puxa que massa Lorena. Gostei da postagem. Gostei da idéia. Outro dia eu quase escrevi sobre a pretinha, a nossa cadelinha que morreu no ano passado e que ficou guardada naquela canção "sons de carrilhão".

Estou lendo com entusiasmo a sua série "Nelhor Amigo".

Um bj.
Inté!

Natália disse...

Lore, eu li essa postagem diversas vezes e abri a caixa de comentários tantas outras. Daí acabei nem comentando antes.
O post é tão bonito que eu não sabia nem o que escrever.
Eu também sou apaixonada por cachorros e fiquei super feliz em saber que o Amigão agora tem uma cachorrinha para quem ele vai dar e de quem vai receber muito amor.

Estou adorando ler seus contos caninos da vida real.

Beijinho, Lore

Maya disse...

Mó saudade do Nego Preto e da Mel... mas Ló, Lance não é basset, é dachshund!

(saudadeeeeeeeeeee!!!!!!!!!)