Semana passada eu estive no mar. Adoro o oceano, porque ele me faz sentir viva, o cheiro do mar é revigorante e me dá energia. Gosto de caminhar pela areia branquinha em direção à água, bem suavemente, devagar, com calma. Não adianta muito ter pressa, porque correndo a gente não sente realmente. E eu gosto de sentir os grãos de areia massageando cada ponto sensível dos meus pés; gosto sentir o calor que vem do chão e o susto que meus pés levam quando a primeira onda gelada quebra bem em cima deles, bem em cima da areia que estava quente. É um sentimento de felicidade, essa surpresa.
Pois eu estive no mar e o dia estava tão ensolarado e quente, que a luz do sol refletida na areia me deixava meio tonta. Fui andando em direção à água atraída pelo aroma e cega pela luz, sem ver muito bem por onde andava, só sentindo aquele desprendimento de corpo que a gente sente, especialmente, perto do mar. E foi aí que por falta de enxergar o chão pisei em algo pontiagudo que entrou na sola do meu pé. Que dor! Assim, bem de repente, num instante eu desfrutava da delícia do momento e no seguinte só conseguia me concentrar na dor. Eu não vi o que me machucou. Procurei na areia branquinha por algo diferente, algo que não fosse um grão de sílica e que pudesse ter magoado minha pele. E não vi nada. Nada diferente que pudesse ter me machucado. A areia continuava branca, a sola do meu pé também, porque nem marca ficou. Tudo igual. Em volta, as pessoas continuavam se dirigindo ao mar ou voltando dele, conversavam, sorriam, encaravam o sol e seguiam andando. O mundo continuava o mesmo, a não ser pela dor aguda bem no meio do meu pé e aquele sentimento de quem foi traída no momento de maior desprendimento: quando o amor era puramente gratuito.
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