domingo, 18 de maio de 2008

Em Defesa da Infância.

Esse post é parte da blogagem coletiva proposta pelo blog Diga Não À Erotização Infantil.

Crianças paradas na porta de um bar. Meninas de no máximo 13 anos de idade, portanto um ano apenas acima do que a lei considera "infância". Ainda crianças, apesar de suas roupas e trejeitos, sua maquiagem e suas insinuações não serem nada infantis. Esperam pelo momento em que um daqueles homens vai escolher "a da vez", e ela enfim vai ter um trocado para comprar comida, ou a roupa que quer, ou o tênis da moda, ou qualquer coisa que a indiferença e a desigualdade social, além do descaso e desestrutura familiar, nunca lhe permitiu possuir. Não lhe deram nem chance de ser criança... É uma cena repugnante de se imaginar. E pensar que a exploração sexual infantil nesse país ainda é parte "importante" da economia de muitas cidades. Crianças sendo usadas por adultos que, em tese, deveriam protegê-las desse e de qualquer tipo de violência. Quando e onde começa o problema? De que forma a sociedade pode pôr um fim nessa situação?

Muitas vezes tudo começa com brincadeiras inocentes, com o descaso dos pais ou ainda com o estímulo dos próprios. Ainda na primeira infância as crianças são bombardeadas por "músicas" com "letras" que fazem apelação ao sexo de forma descarada (porque atualmente nem duplo sentido elas têm mais), que vêm acompanhadas por coreografias escandalosas, decididamente coisa para adultos, e olhe lá. As crianças muitas vezes não vêem maldade nas letras nem nas danças, não têm maturidade para entender do que se trata, e, como crianças do século XXI, são influencidas por tudo que a mídia joga todos os dias para dentro das casas. Caberia então aos pais podar o que entra ou não na vida de seus filhos, mas muitos não se importam ou até acham "bonitinho" ver a garotinha de shorts curtos dançando na boquinha da garrafa, ou seu filho que mal aprendeu a falar com dicção perfeita cantando músicas que depreciam a mulher e tratam o sexo como meio de opressão a elas. Assim começa a erotização precoce dessas crianças, que com 11 anos vão estar doidas para arrumarem namorados, aos 14 já vão ter vida sexual ativa e, se contarmos com a preocupação desses pais em questão, aos 20 já vão ser pais, muitas vezes sem condições de continuar os estudos, desempregados, sem perspectiva...É o início de uma família que já nasceu desestruturada e a continuação do ciclo vicioso.

Pode parecer um terrível futuro para um filho meu ou seu, mas "fácil" de lidar se comparado aos problemas como exploração sexual infantil e
pedofilia. O primeiro, o caso do meu exemplo no início da postagem, acontece por vários motivos, mas as estatísticas mostram que essas crianças em sua maioria sofrem violência doméstica ou mesmo abuso sexual de pais e padastros. Vêem como sua única alternativa a fuga de casa e a vida nas ruas, nas beiras das estradas e na porta de estabelecimentos comerciais, em zonas de prostituição. Prestam favores sexuais em troco de algum dinheiro, uma carona, um prato de comida, um refrigerante. Em muitos casos começam a usar drogas e a se envolver no mundo tráfico. E aí a infância já está perdida, assim como a dignidade, o amor-próprio, a esperança e a força para mudar a situação. A culpa dessa situação não é das crianças, elas não escolheram esse caminho. Ele foi imposto, muito pela situação de miséria e abandono, sim, mas a violêcia sexual doméstica daqueles que deviam-lhes proteção é o que mais pesa. É primeiramente responsabilidade dos pais, mas não posso deixar de citar também aqueles que aceitam manter relações sexuais com crianças, que pagam cinco reais, dois reais, uma coxinha e uma coca, em troca da destruição de uma vida que ainda está se formando... Se não houvesse o "cliente", não haveria "comércio". Sem contar que praticar sexo com menores de 14 anos é crime inafiançável, com pena de 4 a 12 anos de prisão. Portanto os caminhoneiros, taxistas, comerciantes, empresários, policiais, políticos, e todos os outros homens que aceitam e são coniventes com essa situação são criminosos e merecem pagar por seus atos. É o mínimo que se espera, o mínimo para tentar reparar uma dívida social que temos com essas crianças e suas famílias desestruturadas, porque resgatar o que elas perdem é impossível...

A situação da pedofilia é ainda mais assustadora, na minha opinião, por ser mais difícil de ser evitada, pois vem do outro, parte de um terceiro agente: a pessoa que tem esse distúrbio sexual. Com essa modernidade toda de internet, orkut, fotologs, msn, está cada vez mais difícil proteger as crianças dessas situações. Mas acho também que o bom senso dos pais e adultos que convivem com elas seja fundamental nessa questão. Criança não precisa ter orkut. E se tem, então que o pai saiba o que ela faz nele, quais fotos escolhe para os seus álbuns, quem são seus amigos, em quais comunidades ela está. A mesma coisa com as outras ferramentas da internet, como uma averiguação constante de quais sites são frequentados pelas crianças. É comprovado que a internet é o veículo mais utilizado por pedófilos, tanto para trocarem informações entre si, quanto para manter contatos com os menores. Portanto uma vigilância maior nesses casos é muito importante. Além disso, é imperante que pais e responsáveis criem um vínculo de respeito e confiança com as crianças, que abordem e discutam o tema em casa, que sejam abertos à discussão e à perguntas, porque só assim as crianças vão entender o que está se passando e vão recorrer a ajuda de alguém mais velho para resolver a situação. E, principalmente, não duvidar do depoimento de uma criança... Se ela diz que sofreu algum tipo de abuso por parte de um adulto temos que ouvir e averiguar a situação, e sempre, sempre, proteger a criança que é o lado mais fraco e indefeso da história.

Não sei até onde blogagens coletivas como essa ajudam na prevenção e no tratamento dessas "doenças sociais" que atingem nossas crianças. Mas o início de tudo é a conscientização e a educação. É a única forma que eu vejo para mudar toda a situação, desde um olhar sobre o que os pequenos estão ouvindo e assistindo, seus comportamentos, seus problemas familiares, escolares, financeiros, afetivos, a uma maior cobrança das autoridades no que diz respeito aos crimes praticados contra elas. O que não dá é pra fechar os olhos a essas mazelas, fingir que não temos o que ver com a situação, porque todos nós temos nossas responsabilidades como cidadãos. E é como eu sempre falo, é cuidar do mundo de hoje para que ele ainda exista no futuro; é cuidar da vida dessas crianças que estão aqui hoje para que num futuro nossos filhos não estejam no lugar delas. E que Deus as abençoe.

4 comentários:

Sunflower disse...

Menina que vê como a Amelie, ouve Tori Amos e fala em defesa da infância.

Como não gostar?

Éverton Vidal Azevedo disse...

Caramba Lorena confundi as datas e acabei nao escrevendo nada sobre o tema, pensei que fosse para o dia 28.

*Pensando no que fazer*

Por hora, seu texto está muito bom, mostrando várias situaçoes desse problema, dessa enfermidade social.

Leandro Neres disse...

Aaaaa
Não acredito, toda hora ta acontecendo isso, eu posto um comentário, fica meia hora processando e não vai =(
Mas assim, o que queria dizer é que gostei muito da sua abordagem, muito forte, pessoal... Espero que nossa contribuição venha a ajudar alguma criança inocente por este Brasil afora...

Bjsss
Leandro

Nanael Soubaim disse...

Falaste e disseste. Uma forma de preservar a infância é (sem partidarismo) evitar ao máximo os "made in china" que infestam as lojas populares.