terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Blattaria

Às vezes quando a gente acha que o mundo está caminhando, eis que algo nos faz parar e repensar e quase vomitar nos próprios pés. E nessas horas eu penso: onde nós vamos parar?

Eu ontem ouvi uma frase que realmente me embrulhou o estômago. E ainda assim eu não fiz nada a não ser olhar perplexa para a pessoa que a proferiu. Não vou repetir, não, vou só dizer que foi uma manifestação de xenofobia digna de Hitler... Coisa de quem não pára pra pensar antes de falar e de quem nunca pensa no umbigo do outro, apenas no seu próprio. Muito típico da sociedade moderna, mas ainda assim me choca. Me choca pensar que existem pessoas capazes de falar em matar, dizimar e exterminar outras pessoas porque essas são diferentes, no sentido que seja... Assim, como a gente faz com insetos indesejados, só por eles serem insetos.

Qual o nosso problema? Por que é tão difícil, tão complicado, tentar observar as coisas por seus diversos ângulos? Por que nunca abrimos mão das nossas verdades pré-estabelecidas e não pensamos que os outros podem muito bem considerá-las mentiras? Por que ainda temos mania de achar que tudo que não me serve, também não serve a mais ninguém; tudo que eu sou é o que se deve ser e se o outro é diferente de mim, ele está errado...
É aquela velha mania de achar que devemos fazer com o outro o que queremos que façam com a gente... Que idéia errada! Só podemos encarar esse ditado como certo por uma ótica: a ótica do outro a que nos referimos. Se toda vida acharmos que bom para o outro é o que é bom para mim, então não acertamos com o outro nunca, porque não é assim que acontece. O outro é diferente de mim e para ele as coisas são diferentes, não são iguais as minhas nem devem ser. Cada um tem o direito de ser diferente da forma que for. Não importa a cor da sua pele, o lugar onde você nasceu, os costumes do seu povo, sua forma de se vestir, sua religião, sua orientação sexual, sua relação com as pessoas... Você tem o direito de ser exatamente como você é. E respeito de verdade é te deixar ser exatamente como você é, sem nenhum tipo de discriminação por causa disso.

No final das contas, senti pena dessa pessoa que cruzou meu caminho com seu comentário infeliz e seus olhos azuis e roupas elegantes. Senti pena de sentir nojo dela, porque esse sentimento também não é digno de um ser humano. Eu sinto nojo de baratas.


12 comentários:

Camila disse...

Queria tanto nunca ter presenciado algo aprecido também, ou melhor, queria mesmo era que isso não acontecesse, porque não ver seria só tapar o sol com a peneira.

E, às vezes, tenho nojo é dessa sociedade que não ensina muita coisa, que cobra demais e que acaba criando monstros fantasiados de gente. Já vi muita gente que não vestia bem a fantasia, ficava sempre consciência faltando pelos cantos.

Sem hipocrizia, sou feliz por ser diferente. Por ser tão diferente que aceito as diferenças e sei conviver com elas. Nisso, queria que fossemos todos iguais. Nisso queria mesmo.

Entendo plenamente o que você sentiu, Lores. E sei o que é a sensação de impotência diante disso.

Sabe o que? Somos diferentes! E somos mais felizes!

Beijos, Lores!
Tava com saudade!

Éverton Vidal Azevedo disse...

Duas coisas me tocaram no texto. Vou citar fora de ordem.

1) Isso que vc escreveu sobre o tal ditado.
É aquela velha mania de achar que devemos fazer com o outro o que queremos que façam com a gente... Que idéia errada! Só podemos encarar esse ditado como certo por uma ótica: a ótica do outro a que nos referimos.

No início vc me deu um nó, depois eu entendi e concordei. Isso foi meio que novo pra mim, nunca tinha pensado assim.

2)O 3º parágrafo foi um soco na boca do estômago. Adorei, porque mesmo que de alguma forma eu saiba disso, às vezes na vida ajo diferente e quando percebo já está feito.

Lorena parabéns pelo texto!

E me diz, o que significa "blattaria"?

Lorena disse...

Vidal,

primeiro, eu entendi o nó que sua cabeça deu, porque até eu mesma agora relendo o que escrevi achei que ficou complicado. Mas o que eu quis dizer (e já tinha parado para refletir sobre isso uma outra hora) é que não devemos fazer pelo outro o que queremos que façam a nós; mas devemos fazer pelo outro o que ele quer que façamos por ele. Entende? Devemos respeitar a vontade do outro, antes de qualquer coisa. E devemos respeitar o ser humano que existe no outro, que é diferente do ser humano que existe em mim, inclusive nas suas necessidades.

E Blattaria é a ordem a que pertence a barata.

Lorena disse...

E obrigada pelos comentários, Cami e Vidal. =)

Dulce Miller disse...

O preconceito é como um muro bem alto e "esses muros" tão altos nos impedem de enxergar além: além da aparência, além do hoje, além do nosso próprio ponto de vista.
Os conceitos e os pré (conceitos) que temos na nossa cabeça sobre tudo que passamos a conhecer na vida e que carregamos conosco por “n” motivos não justifica que não tentemos ultrapassar esse muro e enxergar principalmente as pessoas com mais clareza e discernimento.
Se criamos um conceito, ele é construído e logo passível de desconstrução e reconstrução.O interessante sobre os conceitos é que eles devem – ou deveriam – ser constantemente testados e mudados, atualizados, quando já estiverem obsoletos, mas na prática não funciona assim...
Preconceito de qualquer tipo nos dias de hoje? Puxa vida...isso é retroagir, isso é difícil mesmo de engolir.
Eu ficaria indignada e enojada também, diante da situação que você descreveu e de qualquer outra parecida, Lô!

Beijos, bom dia!

Anônimo disse...

Essa sociedade me envergonha, me deixa completamente triste de saber que a maioria das pessoas carregam o preconceito no coração e não estão nem ai pra nada. Descarrega esse veneno em cima de todo mundo...
Eu fico completamente indignada tbm qndo me deparo com situações parecidas, as palavras somem... sei lá. Ao mesmo tempo que tenho vontade de falar, de indagar... eu fico muda, sem ação e completamente triste. Até onde vamos?! Aonde tudo isso vai parar?!

Beijooos!!

Urbano Leonel Sant' Anna disse...

Oi, Amélie!

Logo que passei os olhos no teu post senti um certo desconforto com a foto da "Blattaria". Não há o que fazer. Esta aversão é uma reação natural, provavelmente atávica. Não conheço ninguém que goste de baratas! As mulheres normalmente têm medo e acaba sobrando para nós, homens da casa, a nojenta tarefa de matar o monstrinho. Se tem que pisar, eu piso em cima da infeliz, mas não gosto nem um pouquinho, nem do barulho, nem da meleca branca que sai.

Existe, porém, uma coisa que me enoja ainda mais: pessoas, como esta que citaste, que se acham, por um ou outro motivo, melhores do que as outras. Queres saber? Quando lembro de alguns exemplos destes, chego até a encarar a "Blattaria" com uma certa simpatia.

Excelente desabafo!

Um beijão, Lorena!

Sensata Paranóia

Francine Esqueda disse...

Meu.... corre ler a minha ultima terapia! Vc vai adorar! Tem tudo a ver... tipo cada um é cada um... e no final das contas... Enquanto você se esforça e se dedica a alguém, este alguém está se dedicando a outro ser...
Quando a gente percebe isso tem a mesma sensação que esse nojo de baratas!! E eu de lagartixa!!!
Bjus, sdd

Letícia disse...

Eu vou dizer que você saiu do trilho e com estilo, Lori. Porque baratas existem sim e não é coisa da idade moderna. É coisa do homem. Ser pequeno ou grande, padronizado e elevando ego. Alguns de nós têm o terrível dom de ser assim. Outros ouvem apenas e calam. Eu sentiria pena e falaria algo. Sou "o homem" também e falo quando me machucam os ouvidos e a alma.

Thais disse...

Adorei o texto, mas tenho medo de barata.

E tenho medo de gente inconsequente, que vive sem olhar o outro, vive sem respeitar o outro... Quem sou eu pra julgar o outro? Eu posso ser irresponsável a ponto de viver esquecendo-me do resto do mundo?

Não, não creio.. Mas existe =(

Francine Esqueda disse...

Lo...
Vc sempre atenciosa e sensível... Saiba que admiro muito seu jeito de encarar a vida. Sua disponibilidade para aprender e crescer! Seja sempre assim, essa flor de menina!
Beijos

Natália disse...

Engraçado é que os comentários do Everton eram exatamentes os que eu iria fazer. Ia perguntar o que é Blattaria e ia comentar sobre o significado que você deu àqeuele velho ditado que diz que devemos fazer aos outros o que queremos para nós mesmos.

Eu nunca tinha pensado assim esquematicamente como você falou e devo concordar que é bem verdade.
Como assim eu posso assegurar que o outro vai gostar da minha boa ação só por que eu mesmo gostaria?

Estranho isso. Ninguém nunca vai ser igual.

Beijos, Lore