terça-feira, 6 de janeiro de 2009

o silêncio dos inocentes

Crianças brincam no pátio da escola, é a hora do recreio pelo qual todas esperavam impacientes. Saem das salas de aula fazendo algazarra, barulho comum de quem sabe que vinte minutos de liberdade é tempo suficiente para alçar vôo e ganhar o mundo. Sorrisos, gargalhadas, alguns empurrões, umas caras feias aqui e ali, mas no geral levam consigo a insolência e a urgência natural da idade. Crianças de sete, oito, nove anos, correndo em bando atrá de uma bola, atrás de um pombo, atrás de outra criança. Crianças correndo. Correndo do primeiro estampido, correndo do som aéreo, correndo do que vem do céu, correndo. O tempo passa muito rápido. E correm mais rápido que o tempo, mais rápido que os tanques, mais rápido que os homens. Correm, correm, correm de encontro àquilo que vinha vindo em direção oposta. E quando chegam ao seu destino, já não existem mais.

Que mundo é esse em que vivemos dividindo nosso dias de sofisticada paz em nossas poltronas enquanto pessoas morrem na tela da TV? Que mundo é esse que permite o massacre de homens, mulheres, idosos e crianças por algumas dúzias de homens de farda? Que mundo consegue assistir calado o enfrentamento de foguetes e mísseis no céu de um lugar que já foi de paz, mas não conhece o que significa essa palavra há mais de meio século? Que mundo é esse onde uma pessoa assiste sua família acabar, seus filhos morrerem na sua frente, por ter sido confundido com um militante do lado inimigo? Que mundo assiste um pai pegar o corpo de três filhos pequenos, cobertos de sangue e sem vida, depositá-los no chão de um hospital com um olhar de dor impossível de descrever? Que mundo permite que as suas crianças paguem pelos erros cometidos por adultos que aqui estavam muito antes delas nascerem?

Um homem perdeu seus três filhos e sua mãe essa noite, na Palestina. E o mundo? Acho que o mundo perdeu completamente o juízo.



16 comentários:

Leandro Neres disse...

...e não há juízo, não há punição. O poder venceu o juízo. Os fracos silenciam pelo medo e os fortes silenciam pelo poder.

Belo texto, a paisagem das crianças correndo foi forte, da ternura à guerra, triste mas real.

bjs

Leandro

Mari disse...

Lore,
postei sobre a mesma coisa hoje no blog.
sua dor é a minha. sua indignação é minha. fico pensando como tanta agressividade pode vencer as pessoas de bem da Terra. Por que nos calamos, Lorena?? Por que nossas vozes não ecoam mais alto do que as balas?
Sei lá...
é tanta dor, tanta tristeza, tanta calamidade...
A esperança continua. Enquanto estamos aqui, de alguma forma ou de outra, temos fé de que o bem um dia vai vencer o mal. Ah vai!!
bjos !!

Rounds disse...

como diria dylan no título de um dos seus discos: the world gone wrong.

é isso.

Natália disse...

É, Lore, parece que o mundo realmente perdeu o juízo...
E isso é tão triste.
Eu ainda prefiro acreditar que há salvação, ainda que todas as evidências digam o contrário.

Beijo, querida

Dulce Miller disse...

"O que está acontecendo na Palestina, não é justificável por nenhuma moralidade ou código de ética. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional judaico."

(Gandhi)

Luana! disse...

Eu não sou uma conformista, mas as minhas ciências não são totalmente científicas e se justificam, principalmente, nos ditos de Deus.
Ele não gostaria q nada disso acontecesse, mas essas discórdias, essas maldades não são novas e nem serão as últimas.

Oremos sim para que a sabedoria divina paire na cabeça de homens e mulheres.

Bjão, Lore!

Sonhadora disse...

Oláaa, eh a primeira vez q visito seu blog,mas adorei sua sensibilidade. Parabéns pelo blog, bjs.

Letícia disse...

Eu ainda choro com certas coisas, Lori. Choro sim porque olho o meu filho na cama, dormindo tranquilo e sei que em outro lugar qualquer tem gente morrendo, gente atirando criança de prédio, bombas e imbecilidade. Sei que a palavra é forte, mas pior que ela é a violência. E posso não estar no meio do confronto, mas vivo nesse mundo e não sei te dar as respostas. Desde que me entendo por gente, vejo guerra. E não sei se um dia iremos viver em paz. Posso parecer pessimista ou talvez esteja esquecendo que Deus é soberano, mas Ele nos deu a liberdade e não sabemos conviver e lidar com ela.

Por isso converso com o Pedro. Ao menos ele saberá respeitar o próximo e ser homem de verdade. E faço essa mudança dentro da minha casa e espero que o amanhã seja de outra forma.

Maya disse...

Não há o que dizer. Tudo foi dito.

Unknown disse...

a dor se multiplica ao ver as crianças morrendo, pais e maes chorando. tudo é tao aterrador, tao doloroso...

mnas muitos se acostumaram a sofrer durante os poucos minutos de telejornal, ou até mesmo, ao pular os canais de noticias 24 h ... e continuarem suas vidas normalmente,parecem anestesiadas com as imagens chocantes...

eu espero que haja paz em Israel, e tb na Palestina!

bjO

Anônimo disse...

E todos gritam por socorro, mas as vozes são abafadas pelos sons de bombas e tanques de guerra. Onde vamos parar?!

Amigao disse...

Bom dia querida, quanta saudade!
Que texto triste!
Se há crianças morrendo é pq todos nós perdemos o juizo.

Sem muito a acrescentar.

Beijão do amigão

Anônimo disse...

Não é de hoje que o mundo vive em guerra. Desde que o mundo é mundo é assim. O sofrimento de muitos pelos interesses de poucos.
Mas, vamos manter a esperança, pois é isso que nos resta.

bj

Anônimo disse...

Acho que o juízo do mundo foi embora faz algum tempo já. O que nos resta é a esperança. Fazer o bem sem olhar a quem, dar o melhor de nós, transformar aqui e ali, ao nosso redor. De pouquinho em pouquinho podemos mudar o mundo.

beijocas.

disse...

Falar mais o que minha linda criança,
A humanida já passou da hora de rever os conceitos.
Só Deus poderá dar um basta em tudo isso, só Deus...
E por ele que devemos clamar!
Que ele tnha misericórdia de todos nós!
Beijos em seu coração minha linda!

Éverton Vidal Azevedo disse...

Sem juízo, sem juiz, sem justiça. E a nossa alma, ainda bem, está armada e apontada para esse sossego que chamam de paz.