sábado, 17 de janeiro de 2009

A Sacudidora de Palavras*

Eu aprendi a escrever com três anos e meio, e não me julguem metida por contar isso aqui, mas aprendi como quem não quer nada, como se fosse mais uma brincadeira de criança. Era como eu encarava lápis, caderno, livro, eram parte do meu arsenal de brinquedos naquela época. Não foi nada forçado e peguei as pessoas de surpresa, inclusive a professora que ficou em pânico e só percebeu quando o "estrago" estava feito e a menorzinha da turma já lia e escrevia. Fico imaginando o que passou na cabeça dela, deve ter sido um desespero do tipo "tão pequena e já com a chave para a verdade desse mundo." Mas sei que aprendi e me proibiram de frequentar a escola depois disso. Não adiantou muito, porque percebi que o mundo era feito de letras e elas estavam todas à minha disposição e eu seria livre se as dominasse. E então eu escrevia, o que existia e o que eu nem sabia, mas escrevia. E não só aprendi a dominar as palavras inquietas que me iam brotando, mas também a domar o processo desenfreado de ser eu mesma. Segui escrevendo e passei por tudo nessa vida escrevendo. Tive diários, agendas, cadernos de confidências. Escrevi livros infantis quando era criança, infanto-juvenis na puberdade, crônicas bobas no meio das bobeiras da adolescência e redações para o vestibular. Mas sempre escrevi para mim e só me liam se fosse necessário, se alguma coisa dependesse disso (geralmente as notas das provas de redação). Guardava comigo o que pra mim era mais importante que as jóias mais caras que eu quase nunca tive. Que me roubassem um anel de ouro, mas nunca um caderno, isso era infração gravíssima. E como sempre guardei tudo e ninguém lia, ninguém soube que eu sabia escrever além do necessário. Nem eu mesma.

E conto isso aqui hoje porque passou-se quase um ano desde a primeira vez que escrevi algo para ser lido por alguém além de mim. E porque, desde então, a cada dia descubro novas faces e novas forças que eu não sabia que escondia. E hoje colho os frutos das letras que um dia eu resolvi semear. Continuo escrevendo e passando por tudo acompanhada das minhas palavras, mas agora vou além; também sigo acompanhada de pessoas que elas trouxeram até mim. E hoje meu maior tesouro não são minhas palavras por si só, mas um mundo que conquistei através delas. E com o novo mundo vieram vocês e as palavras de vocês, e agradeço imensamente por cada letra que vocês deixam por aqui. Elas, literalmente, escrevem a minha história. =)










Registro mais antigo no meu livro mais antigo.




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*Referência ao livro dentro do livro "A Menina que Roubava Livros". (que por sinal é um dos meus favoritos de todos os tempos)

26 comentários:

Leandro Neres disse...

Parabéns, mais uma vez, é emocionante acompanhar este teu processo de reconhecimento diante das letras, teu amadurecimento no sentido de se reconhecer amante das palavras e Escritora...
Nem sei o que dizer, mas vou voltar para ler os comentários, com certeza vão ser muito do que gostaria de escrever aqui...
=)

Ju disse...

Lores!
Ganhei um presente quando encontrei vocês nessa blogosfera.
Fico feliz em me encontrar tantas vezes nos seus textos e admiro você. De verdade.
E que esse "amadurecimento literário" possa render muuuito!

P.S. Eu não consegui ler A Menina que Roubava Livros... why?!

Lorena disse...

PS: Ju, eu não sei... algumas pessoas me disseram que tiveram dificuldades com ele no início. mas não conheço ninguém que tenha acabado de ler e não tenha gostado. Pode ser que exista, mas eu não conheço.
Aqui em casa eu e minha mãe temos o livro, cada uma o seu, e tanto ela quanto eu guardamos como um grande tesouro. Já virou o livro da família. =)
Bom, se eu fosse vc, faria nova tentativa. Quem sabe Liesel Memminger não te ganha até o final? :)

Letícia disse...

Lori,

Você me faz lembrar aquela menininha do conto Matilda. Aquela do filme. Você tem dons especiais e é de uma inocência tão sábia. Eu li sua letrinha e vi uma menina que tinha vários mundos. Acho que seus leitores devem agradecer por você deixar suas palavras abertas.

Love u, Lori.

Lorena disse...

É incrível como você sabe que assisto filmes infantis sem eu nunca ter dito, Let. Matilda ainda é um dos meus favoritos!

E minha letra era uma tortura. Eu fiz caligrafia até os dez anos, minha mãe mandava. =P E reparou a dificuldade em escrever o último nome? E pensar que tem criança que se chama Washington, dá uma dó!

(brigadão, Let. Love u too)

Anônimo disse...

É Lóris.. Letras são chaves de mundos tão incríveis!!! Mas eu duvido, que sua professora tenha sido assim poética.. Acho que ela teve um daqueles encantamentos lindos que re-significam a profissão... =)

Adoro ler vc escrevendo sobre escrever... Um dia quero ler um livro seu, mas não um tratado sobre os insetos da Amazônia, tá?? =D



Beijo, Thais :)

Anônimo disse...

adorei ler o seu blog amor, e eu também não consegui ler a menina que roubava livros :/
um grande beijo ;*

Dulce Miller disse...

E você escreve tão bem, menina! Te admiro pra caramba, nada menos que isso, sabia?
E eu nunca tive em minhas mãos "A Menina que Roubava Livros", vou corrigir isso em breve, fiquei curiosíssima agora! Obrigada pela indicação e obrigada principalmente por fazer também parte do meu mundo, desse mundo tão rico em letras e palavras que você traduz tão bem aos nossos corações.

Beijo, beijo, beijooooooo!

tiago.augusto disse...

Ei Saumensch! ^^

Antes de mais nada quero te pedir perdão, pq eu tô em falta com vc e com o SLG: desapareci antes por causa da correria, e pq o blog tava pesado pra carregar aqui em casa (aliás, adorei o novo layout!), e depois, férias, já viu neh...
Aliás, eu tava em falta comigo mesmo, pq te ler me faz um bem danado! sério mesmo! sabe qdo vc fala sobre a Clarice, e como ela mexe com vc? então, acho q em mim o efeito é semelhante qdo te leio. As letras q vc semeou me fizeram pensar, re-pensar, matutar, relaxar, viajar, descansar, sorrir... que bom q vc resolveu semeá-las! Eu é q agradeço, e muito! ^^

depois vou tentar pôr em dia as outras letras semeadas por aqui... sei q vou achar coisas muito preciosas.

beijo enorme! o/

Amigao disse...

Nem lembro quando aprendi a ler, mas lembro que também tinha que usar aqueles cadernos de caligrafia, durante uns dois ou tres anos. Valeu a pena.
O prazer de ler e escrever aumentam sempre que veio aqui no seu cantinho.

beijão e boa semana!

disse...

Sabia que você só poderia ser um ser iluminado.
Aproveite muito esse dom filha e nos dê de presente a acada dia seus lindos excritos.
Obrigada pelas palavras de conforto e conto com suas orações. Mas já está tudo bem comigo, nada que com fé e oração as coisas se resolvam.
Grandes beijos em seu coração!

Denise Ravizzoni disse...

Bom, essas coisas se espalham. Beto fala pra Sheyla, que fala pra Denise, que comenta com Beto. Todos escrevem no mesmo lugar, então, vim dizer que concordo com os dois. É difícil escrever uma carta. E mais difícil ler. A sua, foi... dolorosamente fácil.
Abraço
Denise

Éverton Vidal Azevedo disse...

Eu também aprendi a ler e escrever nesse tempo aí, três anos e pouco... E demorei bastante tempo pra escrever pra mais gente ler. É um salto né, sei lá, meio esquisito. Até hoje eu sinto um troço, mescla de acanhamento, vergonha, prazer, um pouco de medo, até de ciúme rsrs. Te dou meus parabéns por prosseguir. Vale a pena né.

E sobre esse livro, eu já procurei e não encontrei. Não sei o nome dele na Bolívia e no Braisl não vai dar pra comprar ainda.

Então, estou voltando a postar, agora estou com pc em casa e vai ser mais fácil pra acompanhar os blogs. Estava sentindo falta daqui. Vou me atulizar então.

Bj.
Inté!

Camila disse...
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Camila disse...

Lores, você dominou as palvras e suas palavras nos dominam. Na verdade, você escreve como quem nasceu lendo e escrevendo, assim, de um jeito natural. Como isso fosse normal, como se todo mundo pudesse fazer isso, mas a gente sabe que precisa de um mínimo de dom. E você tem o máximo.

Sobre "A menina que roubava livros". Eu engoli o livro, quase de uma vez. Amei! E é como você disse pra Ju, a maioria das pessoas não gosta muito da linguagem do prólogo, mas foi extamente o que me cativou.

Ei, eu estava morrendo de saudade!!!
Bom demais ler você!!!

Beijinhos, linda Lores!

Camila disse...
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Camila disse...
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Monday disse...

Que bom que vc não aprendeu a ser presidente com três anos e meio ... viu só do que escapou de se tornar? uma guinorante ... rssss

bom saber que trouxe suas letras para o mundo ... assim, a gente pode conhecer você ...

Márcio Almeida Júnior disse...

Lorena,
Um texto interessante, como os demais, aliás. Tenho estado atento ao seu blog. Aliás, tenho idéias sobre escrever e, depois de ler seu post e ouvir alguns comentários de conhecidos, decidi me animar a colocá-las no papel. Ou melhor: na página virtual. "Que me roubassem um anel de ouro, mas nunca um caderno". Gostei de ler isso...

Márcio Almeida Júnior disse...

Esqueci de dizer: poucas coisas me são mais gratas do que o vento, esse que é tantas vezes repudiado e injustiçado pelos que vivem a temer os resfriados. Só agora prestei atenção ao cabeçalho do "Strange Little Girl" (ele mudou ou eu não o havia observado antes?): uma bela imagem, que sugere movimento de ar e, claro, movimento de idéias, tudo muito feminino. Acho que é dos cabeçalhos mais bem feitos que tenho visto. Alguém com essas idéias visuais esconde muitas sutilezas dentro de si. Hasta la vista.

Líviarbítrio. disse...

Tenho o mesmo sentimento que você quando some algum caderno ou rabiscos. Guardo inúmeros cadernos e folhas velhas com textos, pensamentos e apenas rabiscos, desde quando comecei a amar as palavras e o que eu conseguia fazer com elas.

Acho mágico a intimidade que alguns têm com as letras, como você, uma combinação e uma cumplicidade tão grande.

Sucesso.
Virei mais por aqui.
Beijos.

Anônimo disse...

A Menina que Roubava Livros é um dos meus preferidos também. Li o 1° capítulo e tive que parar. Quando recomecei a leitura, li de uma vez. Tem gente que realmente não consegue, mas eu gostei desde o princípio! Belo texto!!!!

Maya disse...
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Maya disse...

COMO É QUE EU NÃO LI ISSO ANTES?!?!?!

Ló, sua profe tinha mais era que se assustar mesmo. E se assustaria mais ainda se soubesse do poder que você desenvolveria com essa ferramenta-brinquedo tão libertadora que é a linguagem escrita. Você não só é livre por meio dela - você liberta a cada um de nós, todos os dias, com essa arma poderosa.

Hoje mesmo você quebrou mais um grilhão.

Raio de luz... disse...

Passar tanto tempo longe e poder ter o privilégio de vir e ler um texto desse porte é realmente um grande presente. Obrigada por isso, Lo. Por vc existir também e por transformar a nossa vida com suas palavras.

Beijo
Ju

Anônimo disse...

Eu aprendi com 6 anos mesmo, mas essa história é até curiosa.
Um dia eu posto sobre isso, hehe.
Atiçando a curiosidade do leitor, hehehe.

Que lindinha essa letra tão criança, meu Deus.

Beijo, Lore