terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Livro da Minha Vida parte 2

Adoro blogagens coletivas, mas confesso que essa foi mais difícil do que eu imaginei, quando me propus a participar. Conheci a blogagem ontem e hoje passei o dia pensando sobre qual livro citar no meu texto... O dia todo tentando decidir qual seria o privilegiado a ter um post só para si.

Todo mundo (e dessa vez acredito que seja todo mundo MESMO) sabe que cresci rodeada de livros, que aprendi a ler e escrever cedo, que amo de paixão Literatura e tudo relacionado à ela. Eu realmente não me lembro de uma época da minha vida em que não estivesse lendo alguma coisa. Não consigo me lembrar do primeiro livro que eu li, não sei quando foi, não faço idéia mesmo. E ao longo da minha história foram vários os livros que me marcaram e que poderiam entrar aqui na blogagem. Já falei de alguns deles aqui, como Pollyanna, Meu Pé de Laranja Lima, A Menina que Roubava Livros, A Hora da Estrela... Qualquer um poderia dar título à esse post e ser escolhido como um dos livros da minha vida. Então, que critério usar?

Cada livro tem uma história particular na minha vida, mas um deles é fruto de uma grande aventura que eu vivi, quando era criança, e acho que a história de como esse livro entrou na minha vida é um dos motivos pelo qual ele se tornou tão especial e inesquecível pra mim. Meu padrinho trabalha na Marinha, não sei bem que tipo de coisa ele faz, sei que é encarregado em um navio e que passa seis meses no mar. Apesar de não sermos e nem nunca termos sido próximos, a vida de marinheiro que ele levava me parecia muito interessante, excitante e divertida. Ele às vezes me trazia coisas dos lugares por onde passava, dos portos que conhecia pelo mundo, uma moeda de Barhein, uma Barbie que eu até hoje não sei de onde veio (mas era diferente das outras por ter a pele queimada de sol e os cabelos lisos cor de caramelo), cartões, coisas bobas, mas que faziam minha imaginação flutuar pelo mar afora. E eu só imaginava como devia ser viver num navio, 24 horas por dia, seis meses por ano. E a primeira vez que conheci um navio eu tive certeza que todos as minhas idéias e sonhos sobre como seria viver nele estavam mais do que certos: seria uma aventura e tanto!

Acontece que o primeiro navio que eu conheci não foi o navio em que meu padrinho trabalhava (eu conheci esse também, um pouco mais tarde), mas um navio-livraria itinerante, que aportou no Porto de Vitória, quando eu tinha uns oito anos de idade. Meus pais nos levaram, a mim e a minha irmã, para conhecermos o navio. Eu lembro pouco desse dia, mas lembro bem que estava um dia nublado, meio frio, e lembro da fila que nós pegamos pra entrar no Porto e na embarcação mesmo. Era um navio enorme, pelo menos me parecia enorme na época. Sei que tinhas muitos andares e era dividido em sessões, tinha livros para todo lado que se virasse, de todos os tipos possíveis. E eu me lembro que papai nos deixou escolher um livro para cada uma, uma tarefa muito difícil pra mim, porque todos pareciam lindos e ótimos, e eu só podia pegar um. E meu escolhido foi As Aventuras de Bibi Meia-Longa.

Eu tinha oito anos e me lembro como se fosse hoje, como se esse livro ainda existisse aqui na minha estante, da capa, das letras, das gravuras, do cheiro dele... E nunca, nunca me esqueço da história fantástica da menina que morava sozinha numa casa enorme em Vila Vilekula, cujo pai era capitão de um navio e vivia no mar (o que me fez ter ainda mais firmeza nos meus pensamentos sobre as aventuras da vida de marujo), tinha um cavalo e um macaquinho de estimação chamado Sr. Neilsson, e era vizinha dos irmãos Tommy e Annika. Bibi tinha os cabelos vermelhos como o fogo e sardas pelo rosto, era forte como um touro (do tipo que carregava o cavalo no colo), usa meias longas (daí o nome, drr) e sapatos muito maiores que os pés. Por não ter os pais por perto, Bibi não tinha obrigações como as outras crianças. Não ia à escola, tomava banho de três em três dias, não tinha horário para dormir, não fazia as obrigações de casa, comia na hora que queria, e quando precisava ser castigada, ela mesma se dava a bronca, passava o sermão e se punha de castigo. Apesar de ser uma criança controversa, Bibi era doce e divertida, tinha o coração de ouro e amava os amigos, que tentavam empurrar um pouco de realidade para a vida da "maluquinha", com pouco sucesso, porque além do estilo de vida pouco-convencional Bibi era uma mentirosa de mão cheia, inventava mil histórias sobre os lugares em que estivera com o pai, e sempre que era pega na mentira saía com a pérola “no Congo Belga não há uma única pessoa que diga a verdade. Todo mundo mente o tempo todo.”!

Enfim, era a criança que toda criança gostaria de ser. Lembro de uma passagem em especial, essa eu não me esqueço nunca, quando Tommy e Annika convidaram Bibi para tomar o chá da tarde na casa deles. A menina nunca tinha sido convidada para uma formalidade como aquela, então se vestiu da melhor maneira que conhecia: um vestido antigo de adulto amarrado pela cintura, um chapéu velho na cabeça, e sem nunca se livrar das meias coloridas e dos sapatos maiores que os pés. No chá, se comportou como sempe se comportava em casa: sem os modos que as crianças que cresceram com os pais tinham à mesa, comia do seu jeito, se comportava como tinha aprendido a se comportar sozinha. E as amigas da mãe de Tommy e Annika não olham aquele comportamento com bons olhos, e não tratam bem a menininha, enquanto para os dois irmãos ela era a criança mais incrível do mundo. E para mim também. Eu reli As Aventuras de Bibi Meia-Longa até o livro quase se desfazer nas minhas mãos. Lembro que ele já estava sem capa e sem as primeiras páginas, e eu ainda lia e relia. Um dia ele sumiu e eu nunca mais o encontrei, sumiu no meio das várias mudanças de casa que nós fizemos durante a minha vida (uma informação esquisita e irrelevante: eu já morei em 13 casa diferentes, em toda minha vida). Foi uma perda e tanto, procurei em todos os sebos e lojas de troca e venda de usados que eu conheço e nunca mais econtrei aquele livro para comprar. Pelo menos não aquela edição, daquela editora (Ediouro, não esqueço), com aquelas ilustrações que me faziam viajar.


Perdi Bibi por aí e ela me encontrou novamente, meses atrás, numa banca de sebo. Agora a continuação da história, Bibi a Bordo, que fiz questão de comprar e devorar todo em uma tarde. E ela continua a mesma de sempre, as aventuras continuam as mesmas, sua força, suas histórias incríveis e os amigos inseparáveis. E eu me permiti ser a mesma de 15 anos atrás; afinal, estava reencontrando não apenas minha criança favorita, mas uma velha e querida amiga de infância. =)

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Hoje em dia, Bibi é mais conhecida como Pippi Meialonga, na nova versão do livro (editora Companhia das Letrinhas), ou Pippi Longstocking, seu nome original. Sua criadora é a escritora sueca Astrid Lindgreen, que escreveu a história para sua própria filha de sete anos, na década de 40. A história também já virou série de TV, filme e peça de teatro.

14 comentários:

Dulce Miller disse...

E eu me perdi no teu texto... que coisa linda de se ler, Lore! \o/
Estou fascinada com esta blogagem por ler textos tão cheios de histórias fascinantes como a tua.
Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas já me apaixonei pela Bibi!

Beijos, querida!

Luana! disse...

Noosssa!!!!

Enquanto a Du comentava, eu me deliciava c a tua história e, assim como a Du, me perdi nela. A achei tão romântica...

Taí! Vou tentar achar na livraria infanto-juvenil daqui e indicar para a minha 'sobrinha', de 13 anos.

Ela adora livros, sob a minha influência, confesso o crime! =D

Bjoooss

Lorena disse...

Ah, meninas, que lindo! Se vcs encontrarem nas lojas será a nova versão, que se chama As Novas Aventuras de Pippi Meialonga (pra mim será sempre Bibi Meia-longa, assim a conheci). Podem ler, garanto que vão se apaixonar pela sardentinha ruiva e maluquinha. ^^

(ou não, pq eu adoro livros infantis até hoje. =P)

beijos e obrigada!

Anônimo disse...

Uaaaaaaaaaaaaaau que lindo blog!
posso ser sua seguidora?
adorei as postagens, são lindas!
dá uma olhadinha no meu blog também... talvez você goste!
podes ser minha seguidora também xD
Beijos... vou estar te acompanhando agora ;)

Leandro Neres disse...

Adorei mais essa viagem ao teu universo, Loli, você é literatura viva e o que escreve tem tanta coisa, tanta vida, pureza e sabedoria, transmite muita coisa boa, sempre, só me faz bem ler vc :)
bjs!

Letícia disse...

Eu imagino você ainda menina sentada e cercada de livros coloridos e cheios de ilustrações. Imagino a Lorena que gosta da aventura de ler para conhecer outros mundos e também uma escritora de mão cheia. =)

Bjos, Lori.

disse...

Descobri poque escreves tão bem e maravilhosamente.
Essa blogagem foi uma das melhores que já participei. Não conhecia muitos dos livros que indicaram.
Parabéns pela participação e pela postagem tão bela.
Beijos criança, saudades de você viu???
Também participei!

Maya disse...

Ei!!! Já me disseram que eu parecia com ela! Quando comecei a ler achei que a pessoa que tinha comentado isso tinha se enganado, pq tinha dito Pipi, e não Bibi... mas quando cheguei no fim do post, entendi! ^^ Perdi essa blogagem coletiva, ó!

Amigao disse...

Na parte do texto que você começa a falar da Bibi eu comecei a lembrar do seu ursinho,(como é mesmo o nome dele?) e dei risadas da criança que existe ai dentro e percebi que a gente perde muito em não poder estar perto de você.
Ao mesmo tempo senti uma saudade incrivel das minhas sobrinhas.
A Carina e a Isabela principalmente vão adorar este livro.
Beijão do tio pra você também.

Nando Damázio disse...

Não foi só a Du e a Luca, eu também viajei - (com "g" ou "j"? Deu branco) - enfim, viagei no seu texto!

Nunca tinha ouvido falar do livro, mas assim que cair na minhas mãos vou devorá-lo, pois deve ser mesmo uma histórinha muito gostosa. Acho que o que mais fascina na Bibi é o fato de ela ser uma criança tão "politicamente incorreta", ou seja, ela é e faz tudo aquilo que as crianças normais querem ser e fazer. ;D

Lô, acredita que até hoje eu também continuo comprando e emprestando livros infanto-juvenis na biblioteca? Adoro este universo ficcional mágico, exagerado, sem compromisso algum com a verossimilhança. Claro que já li vários "livros de adultos" muito bons, mas acho que continuarei lendo esses livrinhos fantasiosos até quando for um senhor de idade.

Um dos livros que você citou aí é o que escolhi para a blogagem e escrevi sobre ele lá nos Sais da Juliana.

Ah, e você não imagina como fiquei feliz quando o Amigão me mostrou (via webcam) o presente que você me mandou, rs. Um CD exclusivo do The Cranberries! Adorei, Lô, brigadão mesmo. Quando o Amigão vier aqui pro Rio ele me entrega.
Beijão, queridona, muito bom receber um presente desse de você.

Anônimo disse...

Eu acho lindo quem gosta de ler, até tento mas não consigo, não sei se é falta de costume ou se não tenho paciência mesmo!
Mas tenho uma irmã pequena que adora, será que encontro pra dar de presente de aniversário? Me pareceu ser uma história muito gostosa de se ler!

Beijocas, boa noite!

Anônimo disse...

Lorena, adorei seu comentário! Obrigada pelo carinho!
Nunca li este livro, mas o reconheço de Gilmore Girls, quando a Lorelai e a Rory assistem ao filme!
PS: 13 casas? sempre morei na mesma :)
PPS: eu ainda gosto de livros infantis, acredita?

Beijos

tiago.augusto disse...

adoro esses livrinhos! ^^
=P

Natália disse...

Ai, Lore, que coisa mais fofa essa historinha. Só pela sua narração deu vontade de ler na certeza de que deve ser muito boa. Eu também tenho ótimas recordações dos livrinhos infantis.

Beijos.

PS: 13 casas? Puts!