Whispering Heart

"Toc-toc, Coração... "

"Você por aqui?? Se tem uma coisa com a qual eu não estou acostumado é conversar com você! A que devo a honra da visita?"

" Ehn... Hoje é nosso aniversário, esqueceu?"

"Como iria esquecer, se ando pesado desde ontem?? Aliás, o peso esse ano tá maior, será a idade, hein?"

"Hum...Pode ser, né?"

"Ha ha ha, e você ainda acha que pode me enganar! Já viveu vinte e três anos e ainda não aprendeu que sou aquele que não se engana? Sou eu que estou sempre certo! Eu bem que tento te alertar... Tento gritar, palpitar, fremir, pra ver se te mando um sinal, mas parece que você sempre deixa o "alerta" do outro aí ligado, e ele nunca me dá bola."

"Outro aí? Que outro aí??"

"O seu cérebro, ora!! Tá sempre no meu caminho..."

"É verdade, eu admito, tenho o péssimo hábito de dar mais ouvidos a ele do que a você. Acho que minha mania de andar nas nuvens a maior parte do tempo faz com que eu te super-proteja na hora de agir de verdade. Sei como dói um coração machucado, sabia?"

"Claro que sabia, dói mais do que razão machucada, eu sei. Mas também sou eu quem te proporciona as melhores sensações. Ou seu cérebro palpita de emoção? Estremece de alegria? Bate mais forte de excitamento??"

"Ele também não afunda de medo, nem diminui de tristeza, nem dói de decepção..."

"Ah..."

"Mas eu te entendo, Coração. Tenho tentado te dar mais ouvidos, você percebeu?"

"Percebi, sim. E se arrependeu por isso?"

"Não, nunca! Já me arrependi de muita coisa na vida, mas de te ouvir e seguir nunca me arrependi. Mesmo que às vezes eu te machuque demais, sei que, no final das contas, é em você mesmo que eu encontro o consolo..."

...

"Que foi? Agora a pouco você estava reclamando que nunca te ouço, e agora ficou mudo de repente..."

"Sabe, o pior não é sofrer os piores golpes da vida... É nunca experimentar. Se você me deixa livre para voar cada vez mais longe, eu me sinto mais forte para superar as possíveis quedas. Entendeu?"

"É assim a tua lógica, Coração? Eu não sabia... Eu não sei tanta coisa, Coração, às vezes nem parece que já tenho a idade que tenho. Sei que muita gente vai falar que eu sou nova,..."

"E é, mesmo."

"...mas me parece que não vivi nada, tenho tão pouco pra falar de mim, pra contar, pra colecionar na memória. E você, tenho até pena de você, Coração.."

"Pena de mim? Por quê?"

"Por sempre ter te privado de emoções que eu sei que te fariam bem. Olha pra você, tão conservado, parece coração de criança!"

"E isso não é bom?? eu gosto de ser assim..."

"É bom, sim, eu sei que é. Mas às vezes eu queria saber como seria ter o coração já sabido, vivdo, cheio de história pra contar... Você não queria?"

"Não tenho pressa quanto a isso, desde que você me dê mais espaço na sua vida. Não é das histórias que sinto falta, é de ter momentos com você..."

"Ah, Coração! Assim você me faz chorar..."

"Pára, que se você chorar quem dói sou eu!"

"Tá, tá bom. E aí, preparado pra encarar mais um ano?"

"Quer a verdade? Estou sim. Dessa vez nada mais me pega desprevenido, nada mais me deixa bestificado, eu acho que estou preparado pro que der e vier! O que você me diz do sabichão aí de cima"?

"Meu cérebro? Humpf! Continua mais perdido que cego em tiroteio! Mas já estou me conformando, estar em conflito com ele parece minha sina. Acho que o segredo é não dar muita bola pras inquietações, assim vou pondo em ordem aos poucos. E o que não der pra organizar eu jogo no fundo de uma gaveta qualquer e tento esquecer. Um dia, quem sabe, animo de abrir o gaveteiro e até já tenha respostas! "

"Já pensou que eu posso ter as respostas?"

"E você promete um dia me dar?"

"E você vai me ouvir, por acaso?"

"Ah, Coração, quando te deixo falar mais alto eu acabo só escutanto você, até nos meus ouvidos você palpita... E nesses momentos eu sou toda ouvidos!"

"Isso é uma promessa? Uma promessa de aniversário?"

"Sim, é uma promessa de aniversário."

"Tá certo. Agora olha pra frente, que lá vem vindo o seu futuro..."